Avanços nas Neuro – Ciências

Dr. Mohamad Bazzi*
CRO 26610

O tema hipnose sempre foi motivo de muita polémica e sempre deixado a margem do contexto científico. Dentro de um rigor científico a necessidade de uma comprovação e demonstração dos fenómenos, a falta de tecnologia que pudesse monitorar e explicar a forma como se processam os cerca de 20 estados alterados de consciência existentes e descritos, visto que dentre as poucas possibilidades de se observar e avaliar estes estados alterados para defini-los de forma objectiva com base em parâmetros electroencefalográficos (EEG), comportamentais e introspectivos.

As alterações ôhmicas da camada cortical, por intermédio do EEG, permitiram a descrição de três estados alterados de consciência objectivamente definidos. Seriam estes: (a) o estado de vigília, que pode ser de consciência alerta ou relaxada; (b) o sono leve (REM), rápido ou dessincronizado, que não tem efeito recuperador repousante, mas é essencial à regulação da psique, onde os sonhos são recordados; (c) o sono profundo (N-REM), lento ou sincronizado, de efeito repousante e sem recordação dos sonhos. Fenómenos estes bem definidos por teorias encontradas na maioria dos tratados de fisiologia. Mas as limitações do EEG restringem a um estudo das camadas superficiais do cérebro, pois esta técnica só capta actividade eléctrica em grupos de neurónios das camadas I e II do córtex que se difunde na camada dendrítica, e, além disso, encontra ainda a resistência ôhmica das meninges, crânio e pele. O EEG do estado hipnótico não os distingue dos estados de vigília ou de vigília relaxada, e este estado também não se relaciona comportamento ao sono REM, entretanto, certas características típicas da hipnose como a sugestionabilidade, alucinabilidade, regressão, amnésias e analgésicas espontâneas, por exemplo, nos permitem classificá-lo como um estado alterado de consciência, faltando contudo parâmetros bioelétricos específicos para caracterizá-lo. Os fenómenos deste estado evidenciam apenas uma modificação subcortical relacionada à actividade límbica-hipotalâmica.

Mas parece que este dilema tecnológicos já vem sendo superado a aproximadamente 10 anos com os avanços das neuro-ciências, estudos vem sendo realizados com aparelhos tipo PET Scan (Positron Emition Tomography Scanner), que possibilitam a partir de injecção de glicose activada, identificar as áreas cerebrais activas em diferentes situações experimentadas em pacientes, mas o importante é que estas avaliações acontecem de forma dinâmica, não estática como acontece com os tomógrafos convencionais. E se podem observar estrutura mais profundas do que a limitação imposta pelos electroencefalógrafos que monitoram somente a cortical, podendo ser estudadas estruturas mais profundas do sistema nervoso, neste caso nos interessando o Sistema Límbico Hipotalâmico e suas relações com o estado alterado de consciência do transe hipnótico.

Baseado nestes estudos de pesquisa de ponta há 2 anos estão sendo realizadas pesquisas com o Pet Scan direccionadas ao estudo do transe hipnótico como estado alterado de consciência em renomadas e conceituadas instituições norte americanas como Universidade de Standford e Harvard e os Hospital Geral de Massachusetts e Memorial Hospital de Neva York. Neurologistas, radiologistas, psiquiatras entre outros profissionais estão tentando desvendar os mistérios da hipnose clínica.

Hoje em dia já se entende melhor e consequentemente se pode utilizar melhor a hipnose como modalidade terapêutica dentro de um contexto multidisciplinar onde actua como apoio as diversas especialidades potencializando as possibilidades latentes da mente humana em relação a cura e prevenção de patologias. É crescente o número de médicos, odontólogos, psicólogos e outros profissionais da saúde que buscam a capacitação e habilitação na hipnose clínica, onde são conseguidos resultados surpreendentes.
Parece que com a virada do terceiro milénio esta nascendo um novo paradigma que busca uma forma de terapêutica mais holística mais compatível com as necessidades do homem moderno. Uma integração da mente e o corpo esta sendo resgatada tentando compensar a defasagem na evolução do soma, que foi mais trabalhado e estudado nestes últimos séculos, em comparação à mente, dentro da visão de divisão cartesiana e mecanicista, tendo evoluído pouco em comparação ao corpo.

A hipnose vem de encontro a esta proposta dinamizando esta capacitação mental a partir de um princípio elementar e simples, a concentração, o foco, que determina uma actuação mais intensa, mais rápida e eficiente deste mesmo corpo que é regido pela mente, somada a frequência que gera uma demanda interpretada pelo cérebro como necessidade de criar recurso compensatório com o propósito de economia energética, despendida nesta acção repetitiva, possibilitando a formação de novas redes sinápticas ou circuitos de automatização para a realização desta mesma acção com maior eficiência, rapidez e menor energia.

Na odontologia recursos como a hipnoanalgesia e a hipnoanestesia são simplórios quando comparados a possibilidade de melhor eficiência na osseointegração, da cicatrização, tratamento de forma definitiva do bruxismo,as dores orofaciais, remoção de hábitos, temores e inúmeras outras indicações, não menos importantes que há muito tempo já estão sendo aplicadas de forma empírica e que agora encontram a possibilidade de poderem ser explicadas e definidas dentro dos critérios científicos e consequentemente expandindo sua utilização a um número maior de profissionais e especialidades, sendo que estes conhecimentos aumentam a segurança e eficiência de sua aplicação como forma terapêutica de apoio dentro de uma filosofia moderna de tratamento multidisciplinar.

O Interesse da Hipnose Clínica

Nada de incómodas injecções de anestesia ou longuíssimas terapias para tratar uma fobia ou controlar a ansiedade. Muitos médicos e pacientes estão substituindo essas técnicas convencionais pelo uso da hipnose, método usado desde a antiguidade para ajudar na cura de doenças. Sob estado hipnótico, é possível induzir o indivíduo a não sentir dor durante partos ou procedimentos dentários e também ajudar pessoas a se livrarem de angústias e neuroses de forma mais rápida. A utilização da técnica está despertando tanto interesse que o Conselho Federal de Psicologia foi obrigado a regulamentar seu uso, há um ano. A entidade seguiu o exemplo dos Conselhos de Medicina e de Odontologia, que já endossaram a técnica há mais tempo. O objectivo é garantir que a hipnose – segura e eficaz – seja aplicada correctamente e por profissionais qualificados.

A iniciativa é compreensível. Afinal, a hipnose é uma técnica bastante séria que age em uma área pouco conhecida do ser humano – a mente. E ainda não se desvendou completamente sua forma de acção. O que se sabe é que o método altera o padrão de consciência, facilitando o afloramento de conteúdos existentes, mas que não estão presentes em estado consciente. Para que isso aconteça, é preciso haver uma indução, feita pelo profissional. A maioria utiliza a própria voz para dar os comandos e alguns usam o pêndulo, objecto símbolo da hipnose. Seu movimento contínuo e lento ajuda o indivíduo a se concentrar e a ficar sob hipnose. Essa indução não é mágica. Ela é resultado de uma técnica apurada aplicada pelo hipnotizador.

O transe nada tem a ver com relaxamento. Na hipnose, o movimento cerebral é intenso, enquanto no relaxamento há uma diminuição da actividade dos neurónios. Com o paciente hipnotizado, o profissional dirige o raciocínio do indivíduo de acordo com a finalidade do tratamento. Se o objectivo for anestesiar, o médico estimula o paciente a evocar uma sensação de anestesia já registada no cérebro. Pede, por exemplo, que o indivíduo se lembre do que sentiu quando ficou com a mão dormente. A partir dos comandos do hipnotizador, essa sensação é transferida à região a ser tratada – a boca, por exemplo, nos casos de procedimentos dentários. Mas a forma como esses pensamentos se traduzem em estados físicos – não sentir a dor, por exemplo – ainda não está esclarecida. Atingido o objectivo, o profissional realiza o trabalho. Para manter o paciente hipnotizado, é necessário que ele seja estimulado o tempo todo. Caso contrário, o transe acaba.

Uma das utilizações mais comuns da hipnose tem sido substituir a anestesia. Já há partos sendo realizados com a ajuda do método, mas a técnica é mais frequente nos consultórios dentários. É uma alternativa para quem tem medo de injecção, gestantes e outras pessoas que não podem ter contacto com os anestésicos. Em alguns casos, ela é usada até para acalmar os mais medrosos. “Uso o método para fazer com que pessoas que sofrem por causa do barulhinho do motor não o escutem”, conta o dentista e cirurgião buco-maxilo-facial Cláudio Antônio Gargione, professor da Universidade de São Paulo. Gargione usa o método há 14 anos e se especializou na utilização da técnica para o atendimento a pacientes com distúrbios mentais e portadores de paralisia cerebral.

O estudante Ricardo Vilar, 20 anos, contou com a ajuda de Gargione ao ser submetido a uma cirurgia para corrigir o nariz fracturado realizada sob estado hipnótico. Não que tivesse optado por isso, mas em virtude de uma casualidade. Ricardo fracturou o nariz em uma briga. Mas era noite e o anestesista do hospital procurado não estava disponível. Foi então sugerido por Gargione, que faria a operação, que se usasse a hipnose. O estudante e sua família ficaram receosos, mas resolveram tentar. O dentista chamou o hipnólogo e amigo Fábio Puentes, conhecido por demonstrações na tv, para ajudá-lo. Com mais de 40 anos de experiência, Puentes se responsabilizou pela hipnose e Gargione pela cirurgia. Vânia Vilar, mãe de Ricardo, admite que não acreditava na eficácia do método. Mas tudo correu bem. “Lembro-me de tudo. Estava acordado, mas não sentia dor. Meu nariz estava realmente anestesiado”, disse Ricardo.

Na Universidade Federal de São Paulo, especialistas usam a técnica para auxiliar no combate à dependência de cigarro, no controle de tiques nervosos, na diminuição do stress e no tratamento de traumas sexuais. Nesses casos, a hipnose ajuda o paciente a modificar uma determinada forma de pensar ou a identificar bloqueios relacionados aos problemas. Não é por acaso que um dos melhores resultados obtidos com a ajuda do método é no tratamento do vaginismo absoluto psicogênico. A doença atinge mulheres que, mesmo sem apresentarem impedimentos orgânicos, não conseguem permitir a penetração do pénis durante o ato sexual. “A técnica auxilia essas pacientes a encontrar a origem da dificuldade e, aos poucos, superá-la”, explica Osmar Colás, coordenador do Grupo de Estudos de Hipnose da universidade paulista.

Em geral, os resultados aparecem depois de seis sessões. Essa rapidez é uma das razões que explicam o aumento do interesse pela técnica, em especial na psicologia. A maioria dos pacientes do psicólogo e hipnoterapeuta Bayard Galvão, de São Paulo, por exemplo, recebe alta entre a quinta e a vigésima sessão. “A hipnose acelera o processo da psicoterapia. No transe, o paciente se concentra nos pensamentos que interessam para a terapia. É um pensar específico”, explica Galvão. De acordo com o psicólogo, a técnica é eficiente no tratamento de fobias, síndrome do pânico e outros distúrbios psiquiátricos. No entanto, o método também auxilia no tratamento de problemas mais comuns, como desentendimentos familiares e conflitos pessoais.

A designer de jóias Maria Aparecida Gomes, 40 anos, submeteu-se à hipnose para tratar a angústia gerada pelo fato de ter de se dividir entre o trabalho e a filha pequena. “Sofria muito. Quando estava em casa, achava que deveria estar trabalhando, e, quando estava na loja, a consciência pesava por largar a minha filha”, lembra. Foram necessárias apenas cinco sessões para que Maria Aparecida controlasse a ansiedade. Ela não mudou a rotina, mas aprendeu a lidar com a situação.

Por enquanto, ainda não se conhece o total de profissionais que utilizam o método. Mas no Brasil não há cursos de especialização em hipnose nas universidades, e os profissionais têm que recorrer a cursos extracurriculares para se tornarem capazes de aplicar o método. Por isso, todo cuidado é pouco na escolha de um profissional que utilize a hipnose. As entidades que congregam médicos, dentistas e psicólogos sugerem que os interessados verifiquem nos respectivos conselhos o registo do profissional e procurem conversar com quem já tenha se tratado para se assegurar da qualidade e seriedade do escolhido. O psicólogo catarinense Álvaro Aguiar, que já utilizou a técnica, teme que o crescimento do interesse pelo método resulte em prejuízo para o paciente. “Hoje, há profissionais que fazem cursos de 50 horas e se dizem hipnoterapeutas. É preciso um treino mais sério para que a hipnose seja aplicada de maneira correcta”, afirma. O psicólogo não duvida da eficácia da técnica. “Ela realmente funciona e defendo seu uso para casos específicos, como perda de memória, nos quais outras técnicas não obtiveram sucesso”, explica.

Fonte: Lia Bock