Stephan Garcia
13 de setembro de 2007

O alcoolismo é geralmente definido como o consumo consistente e excessivo e/ou preocupação com bebidas alcoólicas ao ponto que este comportamento interfira com a vida pessoal, familiar, social ou profissional da pessoa. O alcoolismo pode potencialmente resultar em condições (doenças) psicológicas e fisiológicas, assim como, por fim, na morte. O alcoolismo é um dos problemas mundiais de uso de drogas que mais traz custos. Com exceção do tabagismo, o alcoolismo é mais custoso para os países do que todos os problemas de consumo de droga combinados.

Apesar do abuso do álcool ser um pré-requisito para o que é definido como alcoolismo, o mecanismo biológico do alcoolismo ainda é incerto. Para a maioria das pessoas, o consumo de álcool gera pouco ou nenhum risco de se tornar um vício. Outros fatores geralmente contribuem para que o uso de álcool se torne em alcoolismo. Esses fatores podem incluir o ambiente social em que a pessoa vive, a saúde emocional e a predisposição genética.

O tratamento do alcoolismo é complexo e depende do estado do paciente.

Terminologia

Muitos termos são aplicados para o relacionamento de uma pessoa que bebe com o álcool. Efeitos fisiológicos do alcoolismo O consumo excessivo de álcool leva a uma degradação do etanol em etanal pelo fígado, fato que consome NAD+ formando NADP. Na segunda reação para a formação de acetato também há consumo de NAD+ e formação de NADP, dessa forma o ciclo de Krebs (dependente de NAD+) é diminuído pela falta de NAD+, aumentando portanto o metabolismo anaeróbico das células, o que irá produzir mais ácido lático no organismo. Esse excesso de ácido lático no organismo compete com a excreção de urato contribuindo para o aumento de ácido úrico no sangue, o qual irá precitar em articulações gerando uma doença conhecida como gota.

Estatísticas

Acomete de 10% a 12% da população mundial e 11,2% dos brasileiros que vivem nas 107 maiores cidades do país; a incidência de alcoolismo é maior entre os homens do que entre as mulheres; a incidência é maior entre os mais jovens, especialmente na faixa etária dos 18 aos 29 anos, declinando com a idade; o álcool é responsável por cerca de 60% dos acidentes de trânsito e aparece em 70% dos laudos cadavéricos das mortes violentas; de acordo com a última pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) entre estudantes do 1º e 2º graus de dez capitais brasileiras, as bebidas alcoólicas são consumidas por mais de 65% dos entrevistados, estando bem à frente do tabaco. Dentre esses, 50% iniciaram o uso entre os 10 e 12 anos de idade.

Tratamentos

Os tratamentos para o alcoolismo são bastante variados porque existem múltiplas perspectivas para essa condição.

Aqueles que possuem um alcoolismo que se aproxima de uma condição médica ou doença são recomendados a se tratar de modo diferentes dos que se aproximam desta condição como uma escolha social.

A maioria dos tratamentos busca ajudar as pessoas a diminuir o consumo de álcool, seguido por um treinamento de vida ou suporte social de movo que ajude a pessoa a resistir ao retorno do uso de álcool. Como o alcoolismo envolve múltiplos fatores que incentivam a pessoa a continuar a beber, todos estes fatores devem ser suprimidos para que se previnam com sucesso os casos de recaídas. Um exemplo para este tipo de tratamento é a desintoxicação seguida por uma combinação de terapia de suporte, atendimento em grupos de auto-ajuda, etc. A maioria dos tratamentos geralmente preferem uma abstinência de tolerância zero; entretanto, alguns preferem uma abordagem de redução de consumo progessiva.

A efetividade dos tratamentos para o alcoolismo varia amplamente. Quando considerada a eficácia das opções de tratamento, deve-se considerar a taxa de sucesso daquelas pessoas que entraram no programa, não somente aqueles que o completaram. Como o término do programa é a qualificação para o sucesso, o sucesso entre as pessoas que completam um programa é geralmente perto de 100%. Também é importante se considerar não somente a taxa daqueles que atingiram os objetivos do tratamento, mas também a taxa daqueles que tiveram recaídas. Os resultados também devem ser comparados com a taxa aproximada de 5% de pessoas que abandonam os programas por conta própria.

Desintoxicação

A desintoxicação para os alcoólicos é uma parada abrupta da ingestão de álcool acompanhada da substituição de medicamentos que possuem efeitos semelhantes para aliviar os sintomas da retirada do álcool. As benzodiazepinas são a família de medicamentos mais comum usada para essa finalidade, seguida pelos barbitúricos.

Desintoxicações são realizadas de vários modos. O primeiro leva em consideração os graus variados de tolerância. Nele, uma dose padrão de benzodiazepínico é administrada a cada meia hora até se obter uma sedação leve. Uma vez que a linha de base estiver determinada, a medicação é reduzida gradualmente nos 3 a 10 dias subsequentes. Outra opção é administrar uma dose padrão de benzodiazepínico baseada no histórico e ajustá-la de acordo com o aparecimento de síndrome de abstinência. Uma terceira opção, segura apenas em alcoólicos leves, é adiar o tratamento até o aparecimento dos sintomas.

A desintoxicação trata os efeitos físicos do uso prolongado do álcool, mas na verdade não trata o alcoolismo. Após a desintoxicação estiver completa, as recaídas são propensas de ocorrer se não houver um tratamento subsequente. A desintoxicação pode ou não ser necessária dependendo da idade, estado de saúde e histórico de ingestão de álcool da pessoa. Por exemplo, um homem jovem que quando consome álcool o faz em quantidades excessivas em um curto período de tempo, e busca tratamento uma semana após seu último uso de álcool, pode não precisar de desintoxicação antes de iniciar o tratamento para o alcoolismo.

Terapia em grupo e psicoterapia

Após a desintoxicação, diversas formas de terapia em grupo ou psicoterapia podem ser usadas para lidar com os aspectos psicológicos subconscientes que são relacionados ao vício do álcool, assim como proporcionar a aquisição de habilidades de prevenção às recaídas.

O aconselhamento em grupo através de ajuda mútua é um dos meios mais comuns de ajudar os alcoólicos a manter a sobriedades. Muitas organizações já foram formadas para proporcionar esse serviço, como os Alcoólicos Anônimos.

Racionamento e moderação

Os programas de racionamento e moderação do uso do álcool não forçam uma abstinência completa. Apesar de a maioria dos alcoolistas serem incapazes de limitar o seu consumo através destes programas, alguns passam a beber moderadamente. Muitas pessoas se recuperam do alcoolismo. Um estudo realizado em 2002 nos Estados Unidos mostrou que 17,7% das pessoas que tinham sido diagnosticadas como dependentes do álcool a mais de um ano (anteriormente à pesquisa) retornaram ao consumo de baixo risco de álcool.

Medicamentos

Embora não sejam necessários para o tratamento do alcoolismo, diversas medicações podem ser prescritas como parte do tratamento. Algumas podem facilitar a transição para a sobriedade, enquanto outras podem causar dificuldades físicas quando do uso do álcool. Na maioria dos casos, o efeito desejado é fazer com que o alcóolico se abstenha da bebida. O dissulfiram previne a eliminação de acetaldeído, um composto químico que o corpo produz quando quebra o etanol. É o acetaldeído que causa os diversos sintomas da “ressaca” após o uso do álcool. O efeito geral do medicamento é um grande desconforto quando o álcool é ingerido: uma “ressaca” desconfortável extremamente rápida e de longa duração. Isso desencoraja o alcoolista a beber quantidades significativas de álcool enquanto ele está tomando o medicamento. O consumo excessivo de álcool associado com o dissulfiram pode causar doenças severas e até a morte.

A naltrexona é um antagonista competitivo para os receptores opióides, bloqueando efetivamente a habilidade do corpo em usar as endorfinas e opiáceos. Ele também parece agir na ação da neurotransmissão do glutamato. A naltrexona é usada em duas formas muito diferentes de tratamento. O primeiro tratamento usa a naltrexona para diminuir os desejos pelo álcool e encorajar a abstinência. O outro tratamento, chamado extinção farmacológica, combina a naltrexona com o hábito normal de ingestão de álcool de forma para reverter o condicionamento das endorfinas que causam o vício ao álcool. A naltrexona é apresentada em duas formas. A naltrexona oral é uma pílula que deve ser tomada diariamente para ser eficiente. Vivitrol é uma formulação que é injetada nas nádegas uma vez ao mês.

Oxibato de sódio é o sal de sódio do ácido gama-hidroxibutírico (GHB). Ele é usado para a abstinência aguda do álcool e para a desintoxicação a médio e longo prazo. Essa droga melhora a neutrotransmissão do GABA e diminui os níveis de glutamato.
Baclofeno tem mostrado em estudos em animais e em pequenos estudos em humanos que melhora a desintoxicação.
Esta droga atua como um agonista do receptor GABA B e isto pode ser benéfico.

Extinção farmacológica

A extinção farmacológica é o uso de antagonistas opióides como a naltrexona combinados com o hábito normal de ingestão de álcool para eliminar o desejo intenso pelo álcool. Essa técnica obteve sucesso na Finlândia, Pensilvânia, e Flórida, e é às vezes citada como o Método Sinclair.

Terapia nutricional

O tratamento preventivo das complicações do álcool incluem o uso a longo-prazo de multivitaminas além de vitaminas específicas como B12 e folato. Apesar da terapia nutricional não ser um tratamento propriamente para o alcoolismo, ela trata as dificuldades que podem surgir anos após o uso intenso de álcool. Muitos dependentes de álcool tem a síndrome da resistência à insulina, um distúrbio metabólico no qual a dificuldade do corpo em processar açúcares causa um suprimento desequilibrado na corrente sanguínea. Apesar do distúrbio poder ser diminuído com uma dieta hipoglicêmica, ele pode afetar o comportamento e as emoções, efeitos colaterais que freqüentemente são observados entre os dependentes alcóolicos em tratamento. Os aspectos metabólicos desta dependência são frequentemente negligenciados, gerando resultados ruins para os tratamentos.